JEAN CHARLES



Nas mãos de Henrique Goldman, Jean Charles, filme baseado na vida de Jean Charles de Menezes, brasileiro assassinado na Inglaterra em 2005, parece beber das fontes do diretor, que tem genuinidade nos documentários e usufrui dela para construir a história de Jean.

Mas como uma história envolvida por uma tragédia pode usar de um método documental e não tirar o envolvimento maior que a ficção proporciona através de seus elementos básicos? Goldman tenta manter as características dos dois gêneros, sem utilizar o caso como trampolim para um sensacionalismo barato.

O filme parece um ode ao “jeitinho brasileiro”. Nos sonhos e nas insatisfações, Jean ganha um dinheiro extra fora seu trabalho de eletricista. Esse dinheiro extra vem dos sonhos de uma vida melhor e da imediata insatisfação de quem cai em si e percebe que está fadado ao trabalho operário e que as oportunidades melhores são escassas. Mas ilusão que não aparece abater Jean. Outra característica dos brasileiros, que não parecem desanimar com tantos ataques e notícias ruins diariamente, que é pontuada pelos diálogos, principal guia da narrativa do longa.

Mas Jean sabe que a alegria não é sua fonte condutora de sua sobrevivência. É preciso tomar uma atitude, mesmo que ela não seja das mais honestas. O que acompanhamos é uma rotina e a luta pela sobrevivência na busca de uma identificação maior com o personagem vivido por Selton Mello. Mas na verdade o que cerca todo o filme é o suspense dado pela construção da tragédia, já que tal fato tornou Jean conhecido. Mesmo que tal rotina seja realçada pela estética escolhida que nos aproxima da realidade.

A revolta pela morte de Jean Charles é inevitável. Mesmo que o envolvimento seja mínimo e que o elenco irregular possa criar barreiras, Selton Mello eleva tal aproximação com a narrativa com excelência. O filme é dele. A construção da morte de Jean Charles passa longe de um show cinematográfico e mesmo que possa revoltar quem espera do filme um drama mais denso, ela é inteligente e a coloca no devido lugar, pois realmente não é um retrato da injustiça e sim a história de um brasileiro, que acorda cedo, trabalha, ganha pouco e se diverte como pode. Goldman acerta pela simplicidade e emociona em seu ápice e passa longe do oportunismo.

Jean Charles (Idem, Inglaterra/Brasil, 2009) de Henrique Goldman

6 comentários:

  1. Bom saber que o filme "pertence" ao Selton Mello, pois verei justamente por causa da presença do ator – não que a trama não seja interessante também…

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  2. d3tima lista! Impossedvel agradar a todos com uma soporpta deste tipo, cada um tem seus favoritos. Mas as duas primeiras posie7f5es da sua lista este3o entre meus imperdedveis. Todos os outros se3

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  3. Ainda ne3o assisti. Adoro o Selton, um dos noosss maiores artistas. E adoro tudo o que ele faz. Este filme este1 sendo super comentado. Quero muito ver. Depois te conto e falo o que achei!Um dia lindo! beijos

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  4. O filme é bom, uma bom produto do cinema brasileiro. Mas, sem dúvidas, poderia ser melhor em diversos aspectos.

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  5. Não conhecia o diretor e sua experiência como documentarista. Achei interessante o roteiro delinear o personagem de Jean com as características mais proeminentes (ou que acreditamos ser) no cidadão brasileiro.
    Se passar aqui, procurarei ver.

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  6. Também não tenho muita expectativa com o filme, apesar de ter Selton Melo no papel principal, um ator que admiro seu trabalho.

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