HALLOWEEN 2

halloween 2 

Acusado de oportunismo ao paralisar a produção de Tyrannosaurus Rex para filmar a continuação da saga de Michael Myers, Rob Zombie parece não ter sentido a pressão do público, nem da Dimension e muito menos dos irmãos Weinstein para entregar o filme oitos meses após assinar o contrato. Zombie fez um filme sobre traumas, fugindo da previsibilidade do gênero.

Após uma breve e abstrata explicação sobre a primeira parte de Halloween, Zombie elimina boa parte de sua habitual verborragia e utiliza o silêncio como fonte de desconstrução da força que o passado exerce na vida de Laurie Strode e de Myers. Mesmo dado como morto, o serial killer é o motivo de noites mal dormidas e surtos de Laurie. Para ela, existe um fardo a levar, que só ganha peso conforme os dias passam. O terror, em boa parte do filme, é psicológico e aumenta gradualmente. Myers, através de criativas inserções, consegue criar vínculo com a platéia ao se expressar e justificar seus brutais assassinatos, nos quais Zombie faz questão de enriquecer em detalhes.

Discreto, o diretor resolve depositar seu característico amor pela década de setenta em outros elementos do longa, deixando visível apenas resquícios de sua adoração pela cartilha white trash. Nela, estão suas marcas autorais junto com outros métodos construtivos como a fragmentação de sequências e a clássica câmera lenta, imortalizada no genial Rejeitados Pelo Diabo. Totalmente diferente do road movie citado, Halloween 2 é um longa que sugere o envolvimento do espectador por outros meios; Eles são largos o bastante para cada um ter sua conclusão sobre a história e julgar cada personagem, o que é algo completamente compensador, pois com tanta rapidez para filmar, seria óbvio esperar uma carnificina e como guia uma trama de gato e rato e nada mais. Mas não é o que acontece - Rob Zombie consegue criar uma média entre a matéria e espírito, sem tirar o foco principal da série de John Carpenter: Amedontrar sua platéia.

Halloween 2 (Idem, EUA, 2009) de Rob Zombie

HOMENS QUE ENCARAVAM CABRAS

 

A paranormalidade é o caminho para a paz. Pelo menos é o que o general hippie Bill Django, personagem de Jeff Bridges, tenta induzir em Homens Que Encaravam Cabras, filme baseado no livro homônimo de Jon Ronson. Em segredo, com ajuda de um grupo seleto de soldados (batizado de “Força Jedi”), ele aperfeiçoa esses poderes psíquicos para o bem e pretende cessar os conflitos que podem destruir uma nação. Lyn Cassady (George Clooney), anos após a criação dessa suposta receita para a paz está em uma missão secreta. E se depara com o frustrado Bob Wilton (Ewan McGregor) em um momento escapista, mas que se adequaria perfeitamente à palavra “suicida” também.

Grant Helsov domina sua narrativa com louvor. Tem o timing certo para debochar de todos os elementos que envolvem a guerra do Iraque. Seus personagens vão de grandes homens á palhaços desmoralizados em questão de segundos. A névoa que Helsov insere na trama para não julgá-los é o grande trunfo para o envolvimento do espectador. Para Bill, a guerra antes de se tornar algo palpável, começa na cabeça dos soldados e ações maniqueístas só elevam o sofrimento. Helsov faz o mesmo caminho e coloca a neura na mente dos soldados que consideram qualquer coisa como um golpe mortal ou uma maldição, criando cenas memoráveis entre George Clooney e Ewan McGregor.

Homens Que Encaravam Cabras é um filme que não preza por um senso rítmico definido. As sequências oscilam entre momentos explosivos, onde o humor é intencionalmente mais escrachado e não menos inteligentes que os momentos contemplativos, onde a obviedade vira motivo de piada. Neles, o sarcasmo é inserido de forma quase imperceptível. Por isso, talvez não seja um filme de fácil digestão. Porém, é uma das formas mais gostosas de assistir a um manifesto anti guerra, que vai além da subjetividade óbvia e panfletária para assumir um radicalismo ímpar ao debochar e lapidar sentimentos característicos de conflitos armados.

Homens Que Encaravam Cabras  (Men Who Stare At Goats, EUA/Inglaterra, 2009) de Grant Helsov

10 FILMES PARA 2010

Passada a temporada do Oscar, a programação dos cinemas volta ao normal, com blockbusters e comédias românticas tomando espaço dos filmes que concorreram a estatueta. Agora cabe a nós ficarmos de olho nas boas estreias e nos festivais que acontecem pelo país. Fiz uma lista de dez filmes esperados para este ano.

ENTER THE VOID (2009) de Gaspar Noé

Exibido no Festival de Cannes no ano passado, o novo filme de Gaspar Noé (Irreversível) passou em branco nos festivais por aqui. Fica a torcida para uma estreia em circuito limitado ou lançamento em DVD.

MACHETE (2010) de Robert Rodriguez

A adaptação de um dos fake trailers de Grindhouse (projeto de Quentin Tarantino e Robert Rodriguez) promete. Robert De Niro, Cheech Marin, Steven Seagal, Danny Trejo, Jessica Alba e Lindsay Lohan compõem o elenco. Tudo joga a favor, caso Robert Rodriguez não resolva fazer mais do que deve.

OS MERCENÁRIOS (2010) de Sylvester Stallone

A realização do sonho de todos os fãs de filmes de ação dos anos 80. Fora toda confusão que o filme arrumou por aqui, Stallone, Bruce Willis, Mickey Rourke, Dolph Lundgren, Eric Roberts, Jet Li e Jason Statham já dão motivos suficientes para esse filme entrar para a lista dos mais esperados. Previsto para 20 de agosto.

THE KILLER INSIDE ME (2010) de Michael Winterbottom

Após virar alvo de polêmicas e acusações durante o Festival de Sundance, no inicio do ano (por não censurar cenas brutais de violência e abuso sexual, muitas pessoas saíram durante as projeções do filme, incluindo Jessica Alba, que está no elenco), o longa será lançado nos EUA sem cortes, mas com indicação para maiores de 18 anos.

OS LIMITES DO CONTROLE (2009) de Jim Jarmusch

O novo filme de Jim Jarmusch está para estrear no Brasil há tanto tempo que dou como certo seu lançamento direto em DVD, apesar de ainda existir uma previsão para seu lançamento nos cinemas. No elenco do thriller estão Gael Garcia Bernal, Tilda Swinton e claro, Bill Murray. Previsto para 25 de junho.

THE SENTIMENTAL ENGINE SLAYER (2010) de Omar Rodriguez Lopez

O debut de Omar Rodriguez Lopez na direção teve première no Festival de Rotterdam, foi selecionado para Tribeca, ganhou críticas favoráveis e comparações à Alejandro Jodorowski. Como fã de seu trabalho como músico (Omar é guitarrista do grupo The Mars Volta e do extinto At The Drive-In) minhas expectativas só aumentaram.
tetro
TETRO (2009) de Francis Ford Coppola

Após alguns tropeços nos últimos filmes, as críticas confirmam que Tetro é a volta de Francis Ford Coppola à sua boa forma. Precisa de mais alguma explicação? Previsto para 7 de maio.

LIFE DURING WARTIME (2009) de Todd Solondz

Se tem algum filme que eu nunca imaginei que ganharia uma sequência este filme é Felicidade. Pois é, Todd Solondz, o louco dos loucos, fez uma sequência de sua obra-prima. E que parece ser tão grotesco quanto o primeiro.

DOGTOOTH (2009) de Giorgios Lanthimos

Vencedor do Festival de Mar Del Plata e do prêmio Um Certo Olhar em Cannes, o filme tem um dos trailers mais doentios dos últimos tempos. Foi exibido na Mostra de São Paulo ano passado, mas torço pelo lançamento em circuito limitado.
KABOOM (2010) de Gregg Araki

Só pelas fotos do filme que estão disponíveis na rede, dá pra termos noção que Gregg Araki voltou às suas origens neste filme. Cores cítricas, viagens alucinógenas, jovens perdidos e surrealismo.

HISTÓRIAS DE AMOR DURAM APENAS 90 MINUTOS


 

Pequenas peculiaridades constróem Histórias de Amor Duram Apenas 90 Minutos. O longa que marca a estréia de Paulo Halm na direção, tem uma poderosa veia cômica, porém, não se assume como uma comédia. Apresenta conflitos e devaneios emocionais de seu protagonista, mas também não veste a camisa de um drama existencial. Assim, fica clara a intenção de Halm de unir gêneros dentro de um mesmo texto. Quando o jovem e inativo escritor Zeca é aterrorizado pelo fantasma da infidelidade, sua estagnação vira o céu e o inferno, representados pela Lapa, berço da boemia carioca.

Se tal paralisação criativa coloca Zeca numa posição submissa ao acaso (este sempre disposto a acionar a bomba que é a mente libidinosa do rapaz), o mesmo não se pode dizer quando a neura permite exibir todas suas fraquezas. É aí que Paulo Halm abusa do humor, criando cenas memoráveis, explicitando a catalisação das frustrações de Zeca, principalmente quando o escritor está com seu frio, monossilábico, plúrimo e totalmente identificável pai, vivido por Daniel Dantas de forma excepcional.

Se o lado cômico é pulsante, Halm estuda os sintomas do desespero de forma mais singela, os usando às vezes como escada para o riso e não se limita a fronteiras, abusando de referências da cultura brasileira; por vezes ele as chacota, outras são estampadas pelo diretor como uma espécie de resgate de costumes que a violência das grandes metrópoles nos impede de cultivar. Em certo momento do filme, Halm consegue congregar em uma mesma sequencia a decadência, funk carioca, humor pastelão e o poeta francês Charles Baudelaire sem parecer pretensioso.

Histórias de Amor Duram Apenas 90 Minutos desconstrói a urgência contemporânea de amar e se sentir amado, mesmo que isso só alimente um sentimento vazio, mas sem colocá-lo sob uma visão pessimista. Na verdade, em todo seu envolto, o filme de Halm é uma divertida contemplação sobre esse desespero e que ao mesclar elementos de variados gêneros, consegue trazer frescor ao cinema nacional.

Histórias de Amor Duram Apenas 90 Minutos (Idem, Brasil/Argentina, 2009) de Paulo Halm

ILHA DO MEDO

ilha do medo 

O cinema é fonte de entretenimento e também serve como válvula de escape para mensagens e pontos de vista sobre situações particulares. Enquanto o fantasma da guerra do Iraque (ou "Operação Liberdade do Iraque", como preferir) não se afastar de vez dos Estados Unidos, veremos obras que refletem sobre tal fato. Alguns vão direto ao ponto como Guerra ao Terror e Guerra Sem Cortes. Outros são mais subjetivos como Avatar e agora, Ilha do Medo, de Martin Scorsese.

Travestido como um thriller (como deveria ser, pois se trata da adaptação do livro de Dennis Lehane), o filme narra a busca de um ex-enviado de guerra que atua como detetive para a polícia pelo suposto assassino de sua esposa dentro de um manicômio. Aos poucos, Scorsese dá uma nova concepção para o medo e a insanidade, sintomas comuns de quem esteve ou está em uma guerra, seja ela qual for. Teddy Daniels, vivido por Leonardo DiCaprio se imerge em uma vertiginosa saga, onde sua maior certeza é uma dúvida. Para construir o clima de suspense, Scorsese não esconde as influencias de Hitchcock, principalmente no início do longa. Aos poucos, o filme ganha marcas autorais e toma um viés esquizofrênico para metralhar alusões à situação vivida pelos Estados Unidos e muda o ritmo de sua narrativa, para melhor.

Nesse momento é quando o filme nos faz duvidar da índole de todos os personagens e consegue com êxito usar antigas artimanhas do suspense, como instigar a curiosidade do espectador e também novos macetes como a sugestiva inserção do sobrenatural, mas não se afasta de um mal comum do cinema americano: o herói individualista. Por outro lado, não menos interessante, está a subjetividade na direção de Scorsese para dar ênfase a uma mensagem anti-guerra sem patriotismo ou radicalismos ao prender em seus fios narrativos ao terror psicológico e colocar a instabilidade emocional como catalisador da trama.

Ilha do Medo (Shutter Island, EUA, 2009) de Martin Scorsese

CORAÇÃO LOUCO

 

Adaptado do livro homônimo de Thomas Cobb, Coração Louco é um filme de detalhes, que apresenta seus conflitos de maneira clara, mas os desenvolve de forma abstrata. A coluna da trama é a frustração. Dela surgem diversos nichos sentimentais do tal coração de Bad Blake, um músico de pequeno porte na cena country, interpretado com maestria por Jeff Bridges.

Como um diário de turnê, o filme se assume como um road movie que enquanto registra a dança dos dias, também exibe a consciente autodestruição de Blake. A direção do estreante de Scott Cooper surpreende por ser minimalista. Cooper se limita até em usar elementos de cena justificáveis, uma sabia decisão para salientar a explosão sentimental em momentos decisivos para a trama.

Sem verborragias ou insinuações maiores, o filme de Cooper prefere mostrar como Blake mantém uma aparência tranqüila, mesmo que sua vida seja decadente. A incansável mente do músico é desconstruída com grande sensibilidade pelo o que existe em seu envolto.

A mente de Blake é explosiva, pois 57 anos se passaram e ele se vê sem um porto seguro. A incapacidade de lidar com suas frustrações deixou rastros pela vida do músico e de quem está por perto. O alarme havia tocado na sua casa, ou seja, na estrada. Nela, foram deixados sonhos, humilhações, a saúde e até um filho. Coração Louco também é sobre redenção; sobre dar alguns passos para trás e recomeçar.

Coração Louco  (Crazy Heart, EUA, 2009) de Scott Cooper

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