CABEÇA A PRÊMIO

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Marco Ricca dispensa a tradicional sede que diretores debutantes vêm ao pote em Cabeça a Prêmio. Em execução, o diretor mostra que sabe bem o que faz.  Mas para transferir a obra de Marçal Aquino que retrata a decadência de uma família burguesa que vive graças a atividades ilegais para a tela, o roteiro problemático se sobrepõe aos olhos afiados da direção.

A impressão é que Ricca tenta justificar a presença de vários personagens e ligá-los à trama naturalmente, mas cai na armadilha da previsibilidade. Perto do epílogo, Ricca ainda corre para apresentar personagens. Para isso, a omissão de fatos é saída mais urgente e se desprende da intenção inicial, que era de seguir o caminho existencialista numa trama que inevitavelmente cai numa rede de crimes.

O grande suspiro do longa está em sequências que nos imergimos na decadência dos personagens, todos completamente contaminados por um sentimento que não sabem descrever. Cada um tem sua forma de descontar esta espécie de frustração, e assim, é possível se aproximar deles. Pena que são raros os momentos que Ricca não confunde este bons momentos com a necessidade de criar uma narrativa linear.

Cabeça a Prêmio (Idem, Brasil, 2009) de Marco Ricca

OS MERCENÁRIOS

os mercenários 

Chame de oportunismo, de tosco ou do que quiser. A idéia principal de Sylvester Stallone em Os Mercenários é o resgate, não só de atores, mas de uma estética de filmes de ação e o tradicional hábito escapista aliado ao gênero. Se durante a década de 90 eliminava-se um plot convincente para construir os filmes e nos últimos dez anos a grande protagonista era a pós-produção com seus efeitos especiais, a década de 80, em que o gênero se consagrou, volta como referência, com espaço para conhecermos um pouco mais de cada personagem (neste caso podemos chamar de Dream Team?) e justificar a porradaria desenfreada.

E este time formado por pilares  como Sylvester Stallone, Jason Statham, Jet Li e Dolph Lundgren (e algumas participações especiais que prefiro não contar, mas que rendem, de longe, a melhor cena do filme) só quer saber da grana. A famosa paz mundial é ignorada e nós agradecemos por isso. Aqui vive a mais fina ironia, pois o diretor/ator faz questão de equivaler esta visão a uma mensagem de direita, em tempos de intensas brigas em Hugo Chavez e os Estados Unidos. Esta visão vai até o seu limite de sobrevivência e ganha uma nova motivação para sustentar o filme e não funciona bem.

De qualquer jeito, o prato principal – as sequências de ação - vem com câmeras tremidas, cenas brutais de mutilação que remetem ao último filme de John Rambo, tiroteios, perseguições de carros e claro, dezenas de explosões. Infelizmente, a fórmula se repete algumas vezes e cansa – muito, por sinal. Afinal, os personagens já foram apresentados, já temos o suficiente para saber o que cada um ali deseja no meio do tiroteio e o ideal é o show cinematográfico e não um aprofundamento maior nos personagens, que Stallone soube fazer muito bem na primeira metade do filme.

Os Mercenários merece ser visto muito mais pelo fato de juntar diversos protagonistas de fitas de ação de diversas épocas em um filme. Não espere uma trama grandiosa o bastante para encaixar todos eles com seu devido valor e sim como uma típica trama de ação produzida nos anos 80.

Os Mercenários (The Expendables, EUA, 2010) de Sylvester Stallone

Análise: Cinemas do Rio de Janeiro

Sempre falo sobre filmes, mas nunca sobre os lugares onde passo boa parte de meu tempo livre. Pensando nisso, resolvi fazer esse post que pode servir como utilidade pública e expor minhas opiniões sobre as salas de cinema do Rio de Janeiro. Analiso programação, estado de conservação das salas e outros detalhes.

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CINEMARK DOWNTOWN (Barra da Tijuca) – Segue o padrão das salas Cinemark e sua programação predominantemente blockbuster. Tem imperfeições de projeção em algumas salas (principalmente na sala 5). Óculos para 3D pesado, apesar de ser o melhor que já usei. O som das salas é bom. Apesar da programação mais pop, o Cinemark Downtown abre espaço para o Cine Cult, o Dia do cinema Brasileiro, o Festival Internacional de Cinema Infantil e o Festival do Rio.

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ESPAÇO DE CINEMA (Botafogo) – A base do grupo Estação e do Festival do Rio. É lá que cinéfilos escolhem sua programação e formam filas intermináveis para comprar ingressos em um ambiente bem agradável. Fora da época do festival, a programação também tende a oferecer filmes que não se encontram em cinemas de shopping. Projeção e som ok. A bela estrutura de fora com bombonière e livraria, não reverbera nas salas. O carpete mofado traz um cheiro desagradável e atrai bichos (não é exagero meu...). O grupo Estação promove cursos de cinema, mantém locadoras e hospeda boa parte de nossas queridas cabines.

vivo gávea
VIVO GÁVEA (Gávea) – Não parece, mas é um cinema do grupo Estação. Dentro do shopping da Gávea e com programação que tende à agenda comercial, as salas também tem estrutura modernosa com lâmpadas coloridas nas salas, mas mantém algumas tradições do grupo Estação, como as espreguiçadeiras e o ar condicionado quebrado.

espaço de cinema
ESTAÇÃO BOTAFOGO (Botafogo) – O que falta na estrutura tem na programação. Filmes ditos alternativos e sempre em continuação, para aqueles que deixam pra ver os filmes quando estão prestes a sair de cartaz. Neste cinema de rua, cadeiras e desenho da sala mantém o visual de cinema antigo.

barra point
ESTAÇÃO BARRA POINT (Barra da Tijuca) – Também com o visual antigo, o Barra Point traz à região uma programação diferenciada ao bairro que tem zilhões de shoppings e cinemas onde predominam franquias cinematográficas e comédias românticas.

laura alvim
CASA DE CULTURA LAURA ALVIM (Ipanema) - Três pequenas salas sempre com muitos filmes em circuito, geralmente aqueles que se consagraram com poucos dias em cartaz ou que merecem uma segunda chance. Agradável para quem prefere sessões tranquilas e perfeito para quem também gosta de uma sessão dupla com cinema/teatro.  As salas também o problema de carpete mofado.

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LEBLON – Sobrevivente da matança de cinemas de rua, é preso à programação blockbuster por motivos óbvios. Infelizmente, toda sua grandiosidade não se equivale na qualidade. Na sala 1, que é imensa e belíssima, o som e a projeção ficam devendo. A sala 2, que tem projeções em 3D, a tela é grudada no teto, o mapeamento das poltronas é horrível e nas poucas sessões que fui nesta sala, ela estava sempre suja.

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UCI New York (Barra da Tijuca)– O cinema de shopping. Boa projeção e som. O teto das salas tem mofo pra dar e vender. Se você preza por silêncio e educação durante seu filme, fique bem longe.

kinoplex fashion mall
KINOPLEX FASHION MALL (São Conrado) – Mais um cinema de shopping. Boa projeção e som. Às vezes troca uma comédia romântica qualquer para exibir um Lars Von Trier da vida.

Cinema São Luiz 2_tela
CINE SÃO LUIZ (Largo do Machado) – Digo o mesmo sobre o São Luiz. Só não gosto dos óculos 3D de lá. São sujos.

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CCBB (Centro) – Se você não conhece, deve ter passado alguns anos em Marte. Mostras de cinema, exposições, livraria e tudo referente à arte. O som das salas é absurdo. Boa projeção também. O público às vezes é bem mala (aqueles velhos reclamões, sabe?), mas ai não é culpa do local.

via parque
VIA PARQUE (Barra da Tijuca) – Desenho de sala pitoresco (já experimentou ver um filme de lado?), programação boa para um cinema de shopping e boas promoções.

arteplex
ARTEPLEX (Botafogo) – Programação ideal, com filmes comerciais e de arte. Ótima infra-estrutura, com bombonière, livraria e restaurante. Boa projeção e som. Salas limpas e cara de grande complexo de cinema.

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INSTITUTO MOREIRA SALLES (Gávea) - Mostras, exposições e palestras num dos locais mais bonitos do Rio. Recomendo comer algo lá mesmo e curtir o visual antes ou após o filme. O único senão é a acesso ao local, que fica no topo da Marquês de São Vicente, uma ladeira gigantesca.

A ORIGEM

a origem 

Uma pequena e óbvia analogia às possibilidades do cinema pode ser atrelada ao roteiro de A Origem. Afinal, só a sétima pode se assemelhar tanto aos sonhos. Só na tela de cinema podemos ver a materialização de um sonho em “tempo real”. Esta brecha é explorada minuciosamente por Christopher Nolan, um diretor que sempre foge de convencionalismos. O tempo, a imersão, a sensação de queda e o vespertino despertar são apenas algumas identificações que o diretor desenvolve com o espectador. Sabendo desse vasto leque de informações, Nolan dispensa a fragmentação da narrativa, mas não deixa de confundir, o que é de praxe em seus filmes.

E criar a equivalência entre a realidade e os sonhos é o tour de force do filme de Nolan. A impressionante plástica e ótimo timing para representar e desconstruir facetas distintas deste estado aumentam o impacto para configurar um filme de gênero. Envolve-se muito mais pelos aspectos citados que pela trama em si. A construção do thriller é igual a qualquer outro. Não estamos à frente de um filme de múltiplas saídas, como os de David Lynch, por exemplo.

A composição de personagens e seus conflitos são batidos e não condizem com toda originalidade do filme. Estão lá os conflitos amorosos e as mesmas motivações para os personagens se corromperem: ganância e incerteza. Fica evidente em certo momento que Nolan busca criar uma nova experiência ao espectador sem ultrapassar as fronteiras de seu conforto. Que não saia da passividade e resolva interagir com o filme. Em devidas proporções, A Origem se conclui sem fugir de um lugar comum no cinema contemporâneo.
A Origem (Inception, EUA/Inglaterra, 2010) de Christopher Nolan

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