Entrevista: Malu de Martino


Como Esquecer chegou aos cinemas na última sexta-feira e consagrou um caminho tortuoso para sua realização. Por abordar um tema, infelizmente, ainda polêmico, o filme teve problemas para captar recursos e por se tratar da adaptação de um livro praticamente sem diálogos, apenas devaneios sobre a ausência do amor. Tive a chance de conversar com a diretora Malu de Martino sobre o projeto que teve première no Festival do Rio.

1) O filme aborda um assunto que, infelizmente, ainda é bastante delicado no país, que é a homossexualidade. Por outro lado, lida com o amor, hors-concours nos roteiros de cinema. Como você se preveniu para não cair em armadilhas e estereótipos para ligar os dois assuntos?

Gosto de filme de amor, não considero o gênero esgotado. As histórias de amor, se bem contados claro, emocionam e tocam fundo. O COMO ESQUECER é uma história de desamor portanto uma história sobre amor, mas não acho que precise escapar de estereótipos ou armadilhas para contá-la.Fazer dos personagens pessoas criveis , já é meio caminho andado.Sobre ligar os dois assuntos; é muito fácil , o amor é simplesmente o amor não faz diferenças de gênero.

2) Até onde existiu a necessidade de contar esta história de amor e perdas através do ponto de vista de uma mulher homossexual? Existe algum conflito por este motivo ou só a urgência de normalizar visões distorcidas a partir de uma escolha sexual?

Não existiu essa necessidade.O filme é baseado o livro “Como esquecer – Anotações quase inglesas”  da Myriam Campello.A protagonista era lésbica, e em nenhum momento achei que deveria mudar isso.O filme não é panfletário e não há nenhum conflito relacionado a sexualidade dos personagens,mas confesso que trazer para o trato comum , para o cotidiano, a imagem de duas mulheres andando de mãos dadas ou dois homens se beijando, me agrada muito.Espero contribuir de alguma forma para o fim da homofobia.

3) Como foi o processo de captação de recursos para o filme? Soube que, pelo tema tratado, muitos gostaram do projeto, mas não ousaram em investir.

Ainda há muita resistência em associar produtos e marcas ao universo LGBT. Por outro lado há muitas empresas e instituições que concedem benefícios aos casais homoafetivos , e foi através delas que conseguimos realizar o COMO ESQUECER.

Malu e elenco de "Como Esquecer"

4) “Como Esquecer” é baseado no livro homônimo de Myriam Campello que trata de perdas na vida adulta. É possível dizer que a ausência, no filme, chega a ser o principal personagem?

Não diria que é a principal personagem, mas é sim uma das protagonistas...Realmente o filme é sobre perder alguém que  a gente ama muito, e me parece que nesse momento, o momento em que estamos elaborando essa perda; a ausência passa a ser o principal assunto das nossas vidas.

5) Você poderia nos falar um pouco mais como foi a direção de atores? Como foi feito o trabalho para todos eles imergirem no vazio sugerido pelo roteiro?

Trabalhamos muito!Ensaiamos um mês diariamente em estúdio, depois mais algum tempo na casa onde se passa a maior parte do filme.Vimos filmes, lemos textos, ouvimos músicas,fizemos exercícios de tai chi tchuan ; tudo para nos sentirmos próximos uns dos outros ao ponto de criar uma intimidade real e trazer isso para a tela.

6) A fotografia parece maravilhosa. Como foi a elaboração do aspecto visual do filme? Tiveram alguma referência direta?

Este é o meu terceiro filme com Heloisa Passos.Criamos uma cumplicidade criativa muito proveitosa para o trabalho.O processo foi mais ou menos o mesmo dos filmes anteriores, vimos filmes, quadros, lugares que serviram de referencia  para a composição.O Rafael Ronconi (Diretor de Arte) contribuiu muito nesse processo, trazendo as referencias dele também.Heloisa tem muito talento e temos amadurecido juntas nossa maneira de filmar.Acho que isso está impresso na tela.


Para ler a resenha de Como Esquecer, clique aqui.

Agradecimentos especiais a Eduardo Godoi.

3 comentários:

  1. Pedro Henrique Gomes3 de junho de 2013 às 15:12

    Bacana! Vou ver o filme quinta-feira, no CLOSE (Festival Nacional da Diversidade Sexual).

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  2. Eu adorei esse filme! :D

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