L'APOLLONIDE - OS AMORES DA CASA DE TOLERÂNCIA


Espectro da mudança de convenções do olhar feminino e sua força no fim do século XIX, L’Apollonide – Os Amores da Casa de Tolerância carece da desconstrução semelhante a de uma pintura: o sexo se confunde com a ternura e a liberdade tem a mesma motivação do sadismo.

Jogo implícito do diretor Bertrand Bonello, o longa trancafia suas personagens em ambientes escuros para esconder a trivialidade da rotina. Ao mesmo tempo em que um médico as amedronta, ignoram o futuro e colocam a submissão em primeiro plano.  Não se sabe ao certo se a prostituição naquele local é trabalho, ajuda ou pagamento de dividas. O paralelo com a pintura segue na composição das sequências – elas de fato ganham planos assimétricos semelhantes à ilusão de movimento em uma pintura.

Bertrand força a aparição da felicidade através de um sorriso feito à navalha. O seu filme é feito para chorar enquanto você, espectador, sorri. A inversão de valores durante a Belle Époque está muito mais para a idéia de atmosfera – soturna, densa e melancólica do que o choque de um novo tempo para as mulheres daquele bordel.

L’Apollonide não cria raízes com suas personagens; as usa da mesma forma que os clientes. É possível trocá-las e confundí-las. O cansativo ritmo de cortes para acompanhar o dia-a-dia dessas mulheres e a troca aleatória de tempo narrativo é um tropeço dentro da angustiante e sensorial abordagem do peso de um tempo que não declarou o seu fim; apenas uma possível mutação.

★★★★
L'Apollonide - Os Amores da Casa de Tolerância (L'Apollonide - Souvenirs De La Maison Close, França, 2011) de Bertrand Bonello

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