A BELA QUE DORME



O governo oprime, a igreja doutrina, a consciência pesa. Em muitas camadas, Marco Bellocchio pauta o que ronda tabus da sociedade através da eutanásia. Em A Bela que Dorme não há mudanças de ótica com intuito de condensar nuances melodramáticos. Pelo contrário, o que se vê é tão instável quanto a vida. Bellocchio aponta para motivações, traumas, medos e claro, esperança.


Como o sofrimento que situações como essa trazem, não há necessidade de discussão sobre certo ou errado; elas são coisas da vida. Assim, Bellocchio vai direto ao âmago; Quem mais poderia abandonar sua vida pela esperança senão uma mãe apaixonada? Quem mais luta contra si mesmo quando há pressão dos “bons costumes” e da burocracia que envolve a relação entre governo e vaticano senão um homem traumatizado? Declarar-se derrotado é crime em uma sociedade cristã? Ir de encontro ao senso, acender o pavio esquecido. Este é o dever, segundo Bellocchio, desta vez longe de sua beleza estética habitual.


Rico em representações dos pilares que cercam esta discussão, A Bela Que Dormeé um filme cuidadoso principalmente em julgamentos. Portanto, não é conveniente esperar dedicação ao passado de cada personagem – ou construções pertinentes a eles. O que interessa na discussão é a liberdade em abreviar ou não uma vida.  Em harmonia inteligível, Bellocchio passa por locações conforme uma turnê turística. Reconhece e apresenta um país e seu estado de crise. Estamos diante do panorama do que se viu nos últimos anos através da mídia sob o estatuto comum da imagem. E com é com a imagem que Bellocchio trama o embate principal, pois estamos diante de corpos e não de almas. 

★★★
A Bela Que Dorme (Bella Addormentata, Itália/França, 2012) de Marco Bellocchio

2 comentários:

  1. Consegui assistir "A Bela que Dorme" na edição do ano passado da Mostra Internacional de Cinema (por sorte, peguei a sessão menos concorrida da programação). Gosto do filme, mas não muito. Bellocchio aborda exatamente todas as questões apontadas em sua análise, mas sinto que o resultado é frio. Pela polêmica do tema, esperava-se por algo mais denso. De qualquer maneira, gosto muito da resolução oferecida para o drama da personagem suicida. Aquele tapa na cara é o melhor momento de "A Bela que Dorme".

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  2. Acho que é uma escolha sóbria em evitar o melodrama, Alex. Talvez para não seguir o caminho mais claro (ou óbvio). Sobre o tapa na cara, é realmente um grande um momento.

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