COBERTURA: FESTIVAL DO RIO 2013 (PARTE 1)

Começa a maratona. Neste post, 28 filmes da programação em ordem de "preferência". Serve como sugestão para os (poucos e fiéis) leitores.

A Garota de Lugar Nenhum (La Fille De Nulle Part, França, 2012)

A arte como forma empírica. Jean-Claude Brisseau usa as cativas aparições fantasmagóricas, o regular erotismo e as questões filosóficas de seus filmes para traçar diálogo com a arte em diferentes formas. Através da noção que viver oferece percepções distintas e livres, a expressão artística não deve seguir padrões e sim exigir caminhos diferentes de interpretação de quem a consome - aquele que o apetece ou o que o desafie diretamente. Leopardo de Ouro no Festival de Locarno 2012.
★★★★★
 A Gatinha Esquisita (Das merkwürdige Kätzchen, Alemanha, 2013) de Ramon Zürcher

No encontro para um jantar, nas conversas triviais - sempre interrompidas -, ou até mesmo nas interferências do acaso, Ramon Zürcher analisa os requintes de crueldade e amor de uma família. A maneira que o paralelo entre passado e futuro e legado familiar são colocados impressiona, mas a forma como a casa serve de personagem principal, a direção de atores, os espaços preenchidos fazem de A Gatinha Esquisita um filme cheio de detalhes, que cresce a cada segundo e exige revisão. Prêmio de Novo Talento no CPH Pix.
★★
O Ato de Matar (The Act of Killing, Dinamarca/Noruega/Reino Unido, 2012) de Joshua Oppenheimer e Christine Cynn


Joshua Oppenheimer oferece a dois integrantes da "milícia oficial" da Indonésia a troca implícita entre o desejo e a verdade. A barbárie justificada por um conceito - oposição e cinema, vem da reconstituição de assassinatos que culminaram num dos maiores banhos de sangue da história. Oppenheimer desafia a vaidade e a consciência de seus "personagens" e de seu público através da linguagem como redenção e também banalização e contradições na figura do vilão.
 ★★★★★
Algumas Garotas (Algunas Chicas, Argentina, 2013) de Santiago Palavecino

Convenções do cinema de gênero a serviço do tempo. A morte simbólica - ou o constante flerte com a literalidade - dialogam de forma ingênua com o abismo criado pelo fim da juventude e a vida adulta. E neste espaço as personagens usam a inconsequência como fuga e a dor, enfim, como terror. Seleção do Festival de Veneza.
★★★★


Educação Sentimental (Idem, Brasil, 2013) de Júlio Bressane



Bressane declara o fim da rotina. Principalmente do olhar. Se ao redor deste manifesto encenado está o cinema e seus efeitos, ele aos poucos desaparece até o não-filme que transparece por completo a profundidade e inconformismo de um autor que nega rótulos ou convenções. Nos meandros de Educação Sentimental é possível identificar a nostalgia iniciada em Rua Aperana 52, mas longe de saudações; ela serve como motivação para seguir firme ideologicamente. Seleção do Festival de Locarno 2013.
 ★★★★
Vic+Flo Viram um Urso (Vic et Flo ont vu Ours, Canadá, 2013) de Denis Coté

Não há princípios quanto à consciência crítica de Denis Coté; portanto, a narrativa de Vic+Flo Viram um Urso é aberta o suficiente para engendrar gêneros e traçar um panorama extremamente severo sobre o Canadá, nação que exerce função de suporte a países vizinhos - em especial os EUA - e pouco recebe de volta. Confeccionado por boa parte em planos fixos, Coté dialoga ironicamente com tradicionalismos de um conto de fadas: mágica e terror. Urso de prata no Festival de Berlim.
 ★★★★

The Canyons (Idem, EUA, 2013) de Paul Schrader 
 
Paul Scharader exibe Hollywood como terra de herdeiros e principalmente refém de interesses, chantagens e perdição de empresários. Como conceito, eis uma trama complexa montada de forma superficial com intuito perverso de diálogo com a linguagem cinematográfica. É possível notar erros de continuidade e uso de planos e movimentos de câmera de forma incessante como total dependencia dos personagens aos novos dispositivos de comunicação. Eis a escória do cinema, o privé, como princípio básico de manipulação.
★★★
 ★★★
Spring Breakers - Garotas Perigosas (Spring Breakers, EUA, 2012) de Harmony Korine
★★★
A Dança da Realidade (La Danza da Realidad, Chile, 2013) de Alejandro Jodorowsky
★★★
 Apenas Deus Perdoa (Only God Forgives, França/Dinamarca, 2013) de Nicolas Winding Refn
Adaptação cosmetizada de filmes de arte marciais. Ao modernizar certos meandros, o filme se enfraquece, mas é coeso e rico em referências e segue padrão estético belíssimo, este que domina a história, até mais que o fiapo narrativo que o longa necessita para dialogar com as convenções do gênero homenageado.
★★★
 Pussy Riot: A Prece Punk (Pokazatelnyy protsess: Istoriya Pussy Riot, Rússia/Reino Unido, 2013) de Mike Lerner e Maxim Pozdorovkin 

Ao invadir a Catedral Cristo Salvador para uma performance relâmpago, o grupo Pussy Riot foi condenado a dois anos de prisão. Mike Lerner e Maxim Pozdorovkin transparecem entre a identidade de cada integrante e o polêmico julgamento, o espírito libertário do grupo, que mescla a atitude punk com o ideal anárquico da arte. O documento serve como afirmação filosófica, mas o poder que a intolerância causa no filme é muito maior. Prêmio Especial do Júri no Festival de Sundance 2013.
★★★
A Piscina (La Piscina, Cuba/Espanha/Venezuela, 2012) de Carlos Machado Quintela
Em caráter observacional, Quintela faz da rotina de jovens com necessidades especiais e outro em voto de silêncio um bom caminho para traçar paralelos não só entre os anseios e desejos de qualquer jovem, mas do que há à frente através da figura do professor de natação. Ele, além de bom amigo representa outros fantasmas que hão de vir. Seleção oficial do BAFICI 2012.
★★★
 Eu Era Mais Sombrio (I Used to be Darker, EUA, 2013) de Matthew Porterfield

No processo de separação de seus pais, Abby recebe a visita da prima Taryn e encontra um mundo de indefinições; Eu era Mais Dark tem em seu eixo principal o incômodo de Abby ao perceber que sua vida não está mais em zona de conforto. Matthew Porterfield usa diversas representações de refúgio para transparecer o fim. Um filme delicado, preso ao cotidiano deste rastro de família e completamente solto de convenções dramatúrgicas. Prêmio de melhor direção no BAFICI.
★★
Outrage Beyond (Autoreiji Biyondo, Japão, 2012) de Takeshi Kitano

O xadrez que envolve máfia, imprensa e a polícia japonesa coleciona brutas sequências de extrema beleza orquestradas por Takeshi Kitano. O filme passeia por diversas questões acerca da idoneidade e faz da câmera mero objeto observacional. Introduzi-la à história sem que a narrativa seja engolida por qualquer proposta estética é o tempero da sequência de Outrage. Seleção oficial do Festival de Veneza 2012. 
★★
Taboor (Idem, Irã, 2013) de Vahid Vakilifar

A imaginação como arma de sobrevivência. É interessante como Taboor dialoga com o cinema de gênero a partir do imaginário infantil - acessórios situam a distorção na rotina de um homem engolido por seu emprego. Nos momentos de escapismo, o encontro com sua verdade. Vahid Vakilifar prolonga planos afim de alimentar ideias e analogias, talvez o único  ponto em que demonstra incertezas em relação ao filme.
★★

Meia Sombra (Halbschatten, Alemanha/França, 2013) de Nicolas Wackerbarth

Eis um austero conto sobre adaptações à monotonia. Nele há entrega, contenção e submissão. A rotina que traz pequenas sensações de vitória e derrota dentro da condenação de esperar. Assim, Nicolas Wackerbarth faz um filme sobre limites imediatos. Dormente aos olhos e agudo para a alma. Seleção do Fórum do Festival de Berlim. 
 ★★
 Diego Star (Idem, Canadá/Bélgica, 2013) de Frédérick Pelletier 

O encontro de almas solitárias e de comportamentos idôneos pode parecer obra do acaso, mas o que Frédérick Pelletier aponta em Diego Star está além da quebra da embarcação e das formas diversas de traição que Traoré e Fanny preferem atropelar por obrigações familiares. Seguros sobre tetos e cercados por pesadelos quando o mundo os enfrenta - a neve como melhor representação visual -, a lição é dada pela sensação de inércia oferecida por valores opostos ao dos cheques de pagamento. Seleção da mostra Bright Future do Festival de Berlim.

O Comediante (The  Comedian, Reino Unido, 2013) de Tom Shkolnik

O filme de Tom Shkolnik é simples: planos médios, cortes específicos, poucos movimentos de câmera e foco na crise dos trinta, representada pelo aspirante a comediante Ed. Fugir da constante crise envolvendo o clássico embate entre vocação e profissão, sua vida amorosa e o relacionamento com os amigos. Forma direta para analisar um tempo complexo.
 ★★★
Sonar (Echolot, Alemanha, 2013) de Athanasios Karanikolas

Um ano se passou desde o suicídio de um jovem. Como homenagem, seus amigos unem-se com o propósito de relembrar os bons tempos de amizade e companheirismo. Porém, o que se vê é o flerte constante com a inconsequência, o sentimento intenso de insatisfação e a nostalgia como eixo para revolta. Athanasios Karanikolas envolve este quadro em longos planos e o som cru de uma sessão de improviso musical - uma maneira convicente de ilustrar o caos emocional no local. Mostra Fórum do Festival de Berlim 2013.
★★★ 
As Lágrimas (Las Lágrimas, México, 2013) de Pablo Delgado Sánchez

Filme de graduação de Pablo Delgado Sánchez no Centro de Capacitación Cinematográfica, As Lágrimas desbrava sentimentos comuns de irmãos em relação a separação dos pais a partir da diferença de idade entre eles. A ausência do pai e o luto da mãe são motivos para a divisão implícita da angústia. É um conto terno ambientado em zona de conforto plástica e principalmente nas representações deste abismo emocional.
★★
Heli (Idem, México, 2013) de Amat Escalante

Prêmio de melhor direção no último Festival de Cannes, Heli oferece um dos plano-sequência mais interessantes dos últimos anos. Porém tal inventividade apresentada no início do filme não perdura até o fim. Partindo do vácuo moral tão presente no cinema mexicano contemporâneo, Amat Escalante escolhe o terror vivido por moradores de Guanajuato - vindo da constante presença de traficantes e policiais corruptos no local. O terreno infértil que circunda os personagens, tão enigmático quanto depreciativo, acentua o lado panfletário do filme que está sempre em função da tragédia.
 ★★

La Paz (Idem, Argentina, 2013) de Santiago Loza

É interessante como Santiago Loza faz do ato de contemplar o principal eixo no diálogo entre os conflitos internos de seu protagonista com a aparente paz ao redor. A depressão, enfim, é abordada de forma crua, sem cosmetização e qualquer porto seguro à vista não é suficiente para o personagem. Porém, La Paz entra no caminho da análise social em paralelo ao drama e perde muito. Berlinale 2013.
 ★★
Behind the Candelabra (Idem, EUA, 2013) de Steven Soderbergh

Baseado no livro homônimo de Scott Thorson, que foi amante do pianista Valentino Liberace por quatro anos, Behind the Candelabra conta em monocórdio a história do casal. O maior atrativo está nas excentricidades do protagonista, mas o que mantém o filme é a entrega do elenco, em especial a de Michael Douglas. Seleção Oficial do Festival de Cannes.
★★
 Eu e Você (Io e Te, Itália, 2012) de Bernardo Bertolucci

Após nove anos longe das câmeras, Bernardo Bertolucci volta ao cinema utilizando a matéria-prima de seu último longa, Os Sonhadores, mas com diferente abordagem em Eu e Você, filme exibido no Festival de Cannes de 2012. A inquietude juvenil desta vez não parte de nenhum princípio político explícito para ser estudado. Em certo ponto de Eu e Você, Bertolucci ultrapassa os limites de sua forma e se vê obrigado a explicar sua intenção máxima através de um discurso, diluindo a força do filme, notoriamente debilitada pela mesmice na forma de causa e consequência. O momento é de fuga para os dois protagonistas em óticas distintas e este é o grande acerto do filme. Pois, no restante não há habilidade para dialogar com o “conflito de gerações” como símbolo da rápida mudança de hábitos e modelo de tempo entre os personagens.
★★
O ABC da Morte (The ABCs of Death, EUA/Nova Zelândia, 2012) de Vários Diretores
Seguindo o modelo de compilação de curtas de cinema fantástico como VHS e The Profane Exhibit, esta antologia conta com nomes conhecidos como Ti West (Hotel da Morte), Ben Wheatley (Turistas), Hélène Cattet e Bruno Forzani (Amargo) e Srdjan Spasojevic (A Serbian Film). Do terrir à ficção científica, a liberdade dada pelo projeto traz irregularidades e momentos memoráveis, como o curta que fecha o projeto, Z is for Zetsumetsu de Yoshihiro Nishimura. Hugo de Ouro  no Festival de Chicago.
★★
Os Encontros da Meia-Noite (Les Rencontres d’apres Minuit, França, 2012) de Yann Gonzalez
Ao reunir personagens distintos sobre o  mesmo teto, Yann Gonzalez sinaliza um diagnóstico ironico sobre valores como O Anjo Exterminador de Buñuel ou o recente Deus da Carnificina, de Polanski. Mas este curso é interrompido bruscamente por uma parábola onírica sobre os desejos da carne até o contato direto com a alma. Seleção da Semana da Crítica no Festival de Cannes.  
★★

7 Caixas Paraguayas (7 Cajas, Paraguai, 2012) de  Juan Carlos Maneglia e Tana Schembori 

Ambientado no maior mercado popular do Paraguai, 7 Caixas Paraguayas tem elementos possíveis para diversas análises sociais, mas prioriza atender à demanda de modelos narrativos relacionados ao cinema de resultados. Portanto, vemos uma aventura superficial, cosmetizada e referente ao mundo cão  norteada por exemplos como Cidade de Deus e Miss Bala. Nomeado ao Goya de melhor filme.
★ 
Uma Noite de Crime (The Purge, EUA, 2013) de  James DeMonaco

Um exemplo de como boas ideias não suportam um filme por inteiro. Uma Noite de Crime  almeja retóricas sobre a questão da violência em relação ao bem estar da sociedade justificadas pelo suspense, mas não coloca seus personagens como questão, e sim, suas atitudes em um só dia do ano. Há pontos que dialogam de forma simplória com a rotina e a cultura do terror sem abertura suficiente para discussões. Feito este caminho, o resultado é um filme mal resolvido e previsível.
 

A DANÇA DA REALIDADE




No retorno ao cinema desde O Ladrão do Arco-íris de 1990, Alejandro Jodorowsky achou em sua biografia A Dança da Realidade a motivação necessária para novamente contar histórias. Porém, o que vemos é uma obra que sinaliza o legado sob a narrativa. Conforme o livro homônimo, o filme também caminha por terreno livre, justificando novamente o mundo onírico e característico na carreira do diretor.


Em tom fabuloso tão irônico quanto o citado O Ladrão do Arco-íris, o filme disseca os monstros que cercaram a infância do diretor. O pai, clara referência ao lado político da época, um homem que mantinha argumentos agudos sobre como viver em um país em regime ditatorial. A mãe, referência direta para Jodorowsky, romanceava cada segundo de vida e fantasiava uma nova realidade. A partir deste painel, A Dança Realidade se mostra como um filme perdido em sua mão principal, como Jodorowsky sinaliza ao entrar em cena literalmente. É preciso que ele mesmo interfira a história como uma força bruta, pois o cinema neste caso é maior que sua própria vida.


Apesar de a mãe ser o pilar para o que se desenvolveria como marca registrada em seus filmes, o que vemos é uma grande homenagem à figura do pai. Engajado e de ideais indestrutíveis, o patriarca leva o filme para o lado melodramático ao contar os dias que a postura política colheu seus frutos.


O grande trunfo de A Dança da Realidade está no ponto mais simples ao que se diz respeito ao cinema de Alejandro Jodorowsky – o divertido jogo que se configura pela  onipresença e ausência de códigos de imagem. Pois se em uma cena vemos a representação híbrida da sexualidade, por exemplo, na próxima estaremos diante da mais clara metáfora sobre a descoberta sexual. E isto também vale para o amor, para a guerra, para a política e claro, para a realidade. E assim se fez o sofrimento e o prazer de Jodorowsky, como criança, jovem e adulto – ou se preferir, escritor, poeta, psicomago e cineasta.

★★
★★
 ★★★
A Dança da Realidade (La Danza de la Realidad, Chile, 2013) de Alejandro Jodorowsky

Promoção: EU, ANNA

Em parceria com a Imovision, sortearemos 4 pares de ingresso de "Eu, Anna", suspense dirigido por Barnaby Southcombe e estrelado por  Charlotte Rampling, Gabriel Byrne e Hayley Atwell.

Para participar, curta a página do cinemaorama no Facebook, compartilhe o post relacionado à promoção e deixe seu nome no campo de comentários.

O resultado será divulgado no dia 17 de setembro neste mesmo post.

Boa sorte!

UPDATE: Os vencedores da promoção são: Juliana Corrêa, Heverton Lima, Diogo Cavalcanti e René Gaertner. Enviem seus endereços completos para contato@cinemaorama.com.


LOVELACE


Rob Epstein e Jeffrey Friedman, que outrora contaram a história de vida do poeta beat Allen Ginsberg em Howl, desta vez dão foco – em partes - ao lado desconhecido do fenômeno do cinema erótico Garganta Profunda, estrelado pro Linda Lovelace. O filme que invariavelmente desafiou a forma pudica de lidar com diversos temas, inclusive aspectos políticos coloca a personagem interpretada por Amanda Seyfried  em função do drama.

Lovelace parte de um preceito estético interessante. Epstein e Friedman preservam macetes comuns do cinema da época retratada, incluindo os granulados de imagem e desenho de som. Também na tela, está o ideal da família perfeita. E a história pode ser dividido em duas vertentes: a primeira mostra de forma contida o despudor de Linda Lovelace potencializado pela relação conturbada com os pais e a necessidade de aceitação. O outro, o conturbado processo de filmagem que durou 17 dias. No set, tudo funciona, mas o foco é o que acontece atrás das câmeras e a repercussão do filme.

E este é um bom exemplo de como um filme pode morrer na mesa de edição. Entre idas e vindas dos seis anos que separam pontos importantes da vida da atriz, Lovelace se perde e enfraquece. A matemática proposta por Epstein e Friedman  perde vigor a cada elipse. Pais e amigos vão e voltam esmaecidos a cada aparição. A força dramática é ilusória, pois a irregularidade dilui qualquer intenção de envolvimento e choque. Este balanço fraquejado faz de Lovelace um filme inocente; uma afirmação irônica perto do impacto cultural de Garganta Profunda.

★★

Lovelace (Idem, EUA, 2013) de Rob Epstein e Jeffrey Friedman

SESSÃO VITRINE: ESSE AMOR QUE NOS CONSOME e NO LUGAR ERRADO

Em cartaz nos cinemas brasileiros, dois filmes da Sessão Vitrine, promovida pela distribuidora Vitrine Filmes:

Esse Amor Que Nos Consome, de Allan Ribeiro
No Lugar Errado, de Luis Pretti, Ricardo Pretti, Pedro Diógenes e Guto Parente

Ambos foram selecionados para a 3ª e 4ª Semana dos Realizadores, respectivamente.

Clique no link para ler as críticas.

COBERTURA: INDIE 13

Começa no próximo dia 6 de setembro a décima terceira edição do INDIE. Além de Belo Horizonte, que hospeda a mostra até o dia 12 de setembro, São Paulo e Porto Alegre também receberão, entre as retrospectivas de Jean-Claude Brisseau e do chinês Wang Bing, os filmes da mostra mundial. BH também recebe a mostra Indie Brasil. Abaixo comentários sobre alguns filmes do INDIE:


A Garota de Lugar Nenhum (La Fille De Nulle Part, França, 2012)

A arte como forma empírica. Jean-Claude Brisseau usa as cativas aparições fantasmagóricas, o regular erotismo e as questões filosóficas de seus filmes para traçar diálogo com a arte em diferentes formas. Através da noção que viver oferece percepções distintas e livres, a expressão artística não deve seguir padrões e sim exigir caminhos diferentes de interpretação de quem a consome - aquele que o apetece ou o que o desafie diretamente. Leopardo de Ouro no Festival de Locarno 2012.
★★★★★
MOSTRA MUNDIAL

Jiseul (Idem, Coréia do Sul, 2013) de Meul O.

Impressionante debut diretorial de Meul O. A partir do massacre Jeju na Coréia do Sul em 1948, supostamente encomendado por americanos, surge um retrato terno e cru. Composto de forma particular, favorecendo belos planos-sequência e metáforas imagéticas referentes à covardia, Jiseul não dispensa a relação com personagens e margens. No último ato o filme cai por seguir o que havia negado por toda duração - tomar a postura de um filme épico com nuances melodramáticos. Prêmio do júri no Festival de Sundance.
 ★★★★

Vic+Flo Viram um Urso (Vic et Flo ont vu Ours, Canadá, 2013) de Denis Coté

Não há princípios quanto à consciência crítica de Denis Coté; portanto, a narrativa de Vic+Flo Viram um Urso é aberta o suficiente para engendrar gêneros e traçar um panorama extremamente severo sobre o Canadá, nação que exerce função de suporte a países vizinhos - em especial os EUA - e pouco recebe de volta. Confeccionado por boa parte em planos fixos, Coté dialoga ironicamente com tradicionalismos de um conto de fadas: mágica e terror. Urso de prata no Festival de Berlim.
 ★★★★

Desejando a Chuva (Chunmeng, Hong Kong, 2013) de Lina Yang

O grande trunfo do filme de Lina Yang é o de legitimar em vias assombrosas os anseios de uma mulher casada e com a vida estabilizada. Nelas, Yang dialoga com a religião, o desejo sexual e o tédio da rotina em uma cidade caótica. Em tom crescente, as frustrações viram monstros e o sexo, um embuste. Menção especial no Festival de Hong Kong. 
 ★★★★

Eu era Mais Dark (I Used to be Darker, EUA, 2013) de Matthew Porterfield

No processo de separação de seus pais, Abby recebe a visita da prima Taryn e encontra um mundo de indefinições; Eu era Mais Dark tem em seu eixo principal o incômodo de Abby ao perceber que sua vida não está mais em zona de conforto. Matthew Porterfield usa diversas representações de refúgio para transparecer o fim. Um filme delicado, preso ao cotidiano deste rastro de família e completamente solto de convenções dramatúrgicas. Prêmio de melhor direção no BAFICI.
★★
Heli (Idem, México, 2013) de Amat Escalante

Prêmio de melhor direção no último Festival de Cannes, Heli oferece um dos plano-sequência mais interessantes dos últimos anos. Porém tal inventividade apresentada no início do filme não perdura até o fim. Partindo do vácuo moral tão presente no cinema mexicano contemporâneo, Amat Escalante escolhe o terror vivido por moradores de Guanajuato - vindo da constante presença de traficantes e policiais corruptos no local. O terreno infértil que circunda os personagens, tão enigmático quanto depreciativo, acentua o lado panfletário do filme que está sempre em função da tragédia.
 ★★
Upstream Color (Idem, EUA, 2013) de Shane Carruth

Segundo filme da carreira de Shane Carruth, Upstream Color parte dos sentidos e do preceito bíblico de criação e ciclo em metáforas. Composto por poucos diálogos e diversas representações visuais, o filme tem força na forma como Shane desenha o diálogo implícito como seu ponto de partida. Dele, a relação de poder, domínio e livre-arbítrio rege o intrigante - e cambaleante - fio narrativo. Integrante da mostra "Panorama" do Festival de Berlim.
 ★★
Eu Peguei um Gato Terrível (Koppidoi Neko, Coréia do Sul, 2012) de Rikiya Imaizumi 

Parte da seleção do Festival de Edinburgh, o terceiro longa-metragem de Rikiya Imaizumi traz a relação entre narrador e leitor/espectador através de uma rede de intrigas que revela visão pessimista sobre o amor e suas mutações nos dias de hoje. Baseado no livro homônimo, o filme segue método simples, sem sair do planos fixos com longos diálogos ou usando o tradicional plano/contra-plano. Imaizumi mostra desconforto com o rumo de sua história e aposta em inserções brutas da proposta inicial, que aos poucos é diluída e justificada como narrativa.
★★
 Odayaka (Odayaka na Nichijô, Japão/EUA, 2012) de Nobuteru Uchida

Com certo exagero em termos melodramáticos, Nobuteru Uchida faz de Odayaka um exercício em dois atos implícitos. O primeiro, infinitamente mais interessante, mostra o desconforto através ideia de segurança divulgada pelo governo japonês após terremotos e o iminente perigo vindo da radiação. Neste ponto o filme lembra o singelo Terra da Esperança, de Sion Sono. Ainda no primeiro ato há também a questão da normalidade dentro de atos revolucionários. A mesma normalidade segue no segundo ato, quando Uchida toma o caminho mais fácil, onde submissão e desespero estão à favor de uma narrativa ante o discurso.
 ★★
 GFP Bunny (Thallium shoujo no dokusatsu nikki, Japão, 2013) de Yutaka Tsuchiya

Partindo da comparação entre a dissecação de sapos e a violação da natureza humana, Tsuchiya faz de GFP Bunny um exercício híbrido da ficção, documentário e reportagens sensacionalistas. A ótica é irônica sobre o fim da identidade através de dispositivos eletrônicos, cirurgias plásticas e a influência que status e vaidade causam na sociedade. A proposta transparece metodismos e uma direção preguiçosa. Logo GFP Bunny se transforma em martírio. Integrante da mostra "Bright Future" do Festival de Rotterdam. 

INDIE BRASIL

O Gorila (Idem, Brasil, 2012) de José Eduardo Belmonte

Esqueça o conto de Sérgio Sant'anna que batiza o filme. O roteiro escrito por Claudia Jouvin se concentra em um thriller ritmado e com boas inserções de humor e deixa de lado a análise da solidão da vida urbana ou o lado patético dO Gorila, vivido por Otávio Muller. Aqui, José Eduardo Belmonte não está intencionado a desnudar identidades ou laços folclóricos de metrópoles e sim encaixar peças num quebra-cabeças aberto ao sonho, à elasticidade temporal e ao deboche, característica do cinema de Belmonte. Um ótimo exemplo da diferença entre literatura e cinema como forma de linguagem.
★★★★

 A Floresta de Jonathas (Idem, Brasil, 2012) de Sérgio Andrade

Passado nos arredores da floresta amazônica, o filme de Sérgio Andrade utiliza  princípios comuns do cinema asiático principalmente na comunicação com o sobrenatural.  Este ponto abre discussão sobre a nova forma de cinefilia, o consumo de flmes e a função da imagem ante a linguagem.  A Floresta de Jonathas pauta a perda da identidade local a partir de corpos estranhos. E são muitos os que rodeiam a narrativa, desde os estrangeiros e sua relação díspar com o antro turístico, o urbano cortando o que é rural à própria presença de Jonathas dentro da mata. Nela, os tradicionalismos duelam com  o "novo" e a ideia de poder e condenação. Filme da Première Brasil do Festival do Rio 2012.
 ★★★ 
 O Gorila (Idem, Brasil, 2012) de José Eduardo Belmonte

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Zombio 2: Chimarrão Zombies (Idem, Brasil, 2013) de Petter Baiestorf

Talvez o mais ativo dos representantes do cinema de  bordas no Brasil, Petter Baiestorf repete o método de filmes emblemáticos como A Curtição do Avacalho e Raiva, com sangue, sexo e anarquia. As  convenções como forma de crítica e o discurso pró realização de filmes sem o auxílio de leis de incentivo e grandes aparatos saturam Zombio 2 rapidamente. Para os não familiarizados com a filmografia de Baiestorf, é uma boa oportunidade para conhecer o trabalho do diretor de Palmitos, interior de Santa Catarina, responsável por bem humorados curtos-circuitos justificados como filmes de terror. Seleção oficial do FantasPoa 2013.
★★
★★★

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