Paixão e Virtude (Ricardo Miranda, 2014)

 

Há muito a dizer sobre Paixão e Virtude, mas para sintetizar o impacto que a obra de Ricardo Miranda traz após a notícia de sua morte na última semana é necessário ampliar a ótica sobre o curso da carreira daquele que montou filmes de mestres como Ivan Cardoso, Glauber Rocha e Paulo Cesar Saraceni e dirigiu Assim Na Tela Como no Céu e Djalioh. Portanto será necessário um tempo maior de digestão e exclusão do filme da cobertura de luto e consideração. E o que pode-se comentar sobre o longa por enquanto...

Da mesma maneira que Djalioh (2012), Paixão e Virtude faria parte de uma trilogia e tem Flaubert como base. Nesta linha o que vemos é um respeito crível à literatura (linguagem), teatro (espaço e performance) e o cinema como ato contínuo, uma necessidade de expressão garantida pela evolução de uma espécie necessitada de inexatidão. Miranda questiona esta evolução em fina ironia, evitando problematizações acerca da moral pois os personagens se entregarão a cada quadro - metaforica ou literalmente, dependendo da motivação de Miranda. A matéria é o mesmo humano que escraviza e moraliza até pensamentos e não se inibe ao colidir com impulsos. 

Miranda deu ao narrador o papel de termômetro instintivo. É a forma clássica de se desenvolver uma história em conflito com a liberdade da imagem e a força de um embate de performances que não seguem o texto à risca. Toda riqueza oriunda desta parabólica acompanha o controle de Miranda sobre as motivações de um devorador de autores e artistas. Desta relação entre diretor e obra a força do filme duplica e toma forças ainda maiores com os últimos acontecimentos. Eis uma declaração de amor à inconstância e contradições humanas que permitem declarações angustiantes e cínicas acima de qualquer consideração. Diagnósticos tampouco. O que se celebra em Paixão e Virtude é a vida, ainda que a tela insista em abordar a morte. 

Paixão e Virtude (Idem, Brasil, 2014) de Ricardo Miranda

2 comentários:

  1. Pela crítica lida ,deve ser um filme interessante já que permeado por Flaubert.Quero assisti-lo e tirar minhas conclusões!!!

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