Miss Violence (Alexandros Avranas, 2013)



O trabalho de Miss Violence à priori é o de ecoar a suspensão emocional de um tipo de cinema que há muito fora consignado ao cinema europeu à estirpe de Elem Klimov, Ján Kadár, Aleksey Balabanov, Michael Haneke, e mais recentemente, o conterrâneo Giorgios Lanthimos, diretor de Dogtooth, de 2009. Em comum, estes diretores em algum momento de suas carreiras exibiram o movimento tão ilusório quanto à ideia de mundo perfeito através de digressões do lamento e do humor involuntário sempre pautados a partir de um plano político. O cartão de visitas de Alexandro Avras, a cena de um suicídio, tão brutal quanto cínico deixa evidente o norte do filme.


Na medida em que se desenvolve, Miss Violence parece a cada quadro como um diagnóstico de uma sociedade doentia em um país em frangalhos. Este encontro exige que a tragédia exibida no primeiro minuto de filme fique em evidência a cada quadro. O trabalho de Alexandro Avranas é o de constituir o que segue, das burocracias exigidas ao pertinente – e nunca presente – momento de luto da família que perde um ente querido. Partindo deste ponto, o filme, frio e pessimista – como deve ser – entrega as formalidades de uma família moldada ao pensamento que existir é de fato um ato trágico. 


Escapar da formatação de um tipo de personagem como o vilão ou a vítima enfoca a calculada crueza do filme. Ele é entregue ao reflexo automático de um tempo que se suporta, ou ao menos tenta-se adaptar a qualquer coisa. Para isso, há uma camada de solenidade acompanhada do característico e sempre constrangedor silêncio, uma virtude nunca modesta, pois o que vemos é a moral sendo depositada no lixo em troca de valores nem sempre bem definidos. As consequências, estas sim são claras dentro de um terreno banal que é a rotina de uma família de classe média grega, a grande vítima da crise econômica. O que circunda Miss Violence, da mesma maneira que Dogtooth, é o desespero por uma saída e pela inexistência desta, o auto-boicote serve de apoio. 

E justificado desta maneira, o circo de horrores é montado e desenvolvido a partir de uma mentira que exige momentos de crueldade e egoísmo. Mesmo que o filme tange ao reflexo mais comum a este tipo de pensamento, a violência, seu impacto é conservado, pois Avras se concentra em potencializa-lo pelo lado psicológico. Apresentar este mundo já é o suficiente para a perspectiva pessimista e de áurea agressiva.

Miss Violence (Idem, Grécia, 2013) de Alexandros Avras

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