Whiplash (Damien Chazelle, 2014)


Ao longo do último século, Jacques Armont, Noel Burch, André Bazin e Sergei Eisenstein, para citar alguns nomes, se debruçaram criticamente sobre o estudo da forma do filme e consequente diálogo com o público. A chamada decupagem, que com o passar do tempo ganhou nova definição e função, da imagem ao roteiro, amplifica a noção de como se comunicar através de uma imagem impura  - tendo o corte como o ponto principal.

Um filme sobre um baterista em busca da performance ideal expande a relação da decupagem através do mais instintivo dos instrumentos. Damien Chazelle, que continua sua saga sobre o jazz após Guy and Madeline on a Parker Bench (2010), faz um filme de explosões. Whiplash se resume à acender pavios muito curtos em eixos dramáticos para o êxtase regido pela figura vilanesca de Fletcher (J.K. Simmons), este o maior suporte narrativo e representação dos contrastes sobre os sentidos e limites do filme. 

Em resposta protocolar - a necessidade de justificar e se afirmar como um drama -, Whiplash se preserva como um filme de manipulações trágicas visualmente apoteóticas. O jovem Andrew, como qualquer protagonista de filmes motivacionais, está à procura de afirmação e respostas para o seu sonho. A saga é interrompida diversas vezes, como qualquer filme, repito, motivacional, pela negação, pelo acaso e claro, por Fletcher. Estes eixos são cronometrados para a assimetria ideal com os números de Andrew à frente do kit de tambores e pratos.  É a dominância crescente da fórmula: Andrew poderia estar em um ringue para remeter a Rocky - Um Lutador ou sofrer feito Zack Mayo em A Força do Destino e o escopo seria mantido: não desistir, continuar até à perfeição - o que é inerente ao gênero.

A cada quadro, Whiplash exibe a ciência de Chazelle pela identificação com conceito de caos progressivo entre tantos momentos de bonança. A escuridão dos estúdios e do palco evidenciam o escape de Andrew em espaço externo para que a surpresa do transporte para um mundo pouco explorado - o gênero musical e principalmente o instrumento - se renove a cada aparição. Nestes momentos a decupagem se faz dona do filme, onde sangue, suor e lágrimas representam, a cada close, um passo dado pelo jovem.

Em sequências regidas pelo diálogo imagético, no qual Andrew se depara apenas com a pressão exterior psicologicamente, Whiplash é bem sucedido. As manobras dramáticas se evidenciam pela força que transcende todo arco construído por Chazelle. A entrega do protagonista até o corte final coloca em evidência o peso da decupagem em casos como este. O paralelo entre o instinto humano com o instinto cinematográfico é o grande acerto, principalmente por se tratar de um filme sobre boicotes.

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