Mr. Turner (Mike Leigh, 2014)



Curioso ver Mr. Turner lançado direto em home video no Brasil ao mesmo tempo que Mais um Ano (2010), penúltimo longa de Leigh, estreia em circuito nacional. Mais uma questão de logística e falta de confiança no espectador, pois apesar de ambos seguirem a fórmula de diluição do drama através da trivialidade tão funcional quanto nos tempos de A Vida é Doce (1990), Mr. Turner mais parece uma catalogação natural de imagens em função do implícito conto de um homem contra o academicismo e qualquer farsa embutida em discursos críticos. Leigh opta por planos abertos - a pintura dentro do escopo, muitas vezes, literalmente -, não se priva em esbarrar em Pialat e Visconti e menos ainda para abordar um descontraído diálogo com a chegada do cinema. Mas, sim, há uma explicação para Mais um Ano chegar às telas no Brasil, mesmo com muito atraso: embora tão monocórdico quanto seus outros filmes, há uma ignorante dose de empatia na relação dos vizinhos e amigos, bem mais que o citado A Vida é Doce. Já Mr. Turner é o encontro de mais uma possiblidade para Leigh, que já foi de Simplesmente Feliz (2008) a Naked (1993) sem que sua marca fosse alterada; Mr. Turner pode ser o primeiro passo para um formato ainda mais aguçado e desafiador para Leigh como um grande compositor do indivíduo prosaico sobre a carcaça do mito.

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